O futebol português rejuvenesce
Há duas  semanas, escrevi aqui que a época 2010/2011 começava naquele  dia,  quando o Benfica jogasse com o Vitória de Setúbal. O jogo acabou  com a  vitória do Benfica por 3-0, e eu convenci-me de que tinha razão.  Afinal  devo confessar que me enganei. Não estamos a assistir ao inicio  da  época 2010/2011. O campeonato que agora começa é o respeitante à  época  1996/1997. Aquele ano em que se juntaram, na primeira divisão,  árbitros  como José Pratas, Augusto Duarte, Soares Dias e Isidoro  Rodrigues,  entre tantos outros. A arbitragem de ontem, em Guimarães, foi  de  96/97.Até quem viu o jogo em casa sentiu o cheiro a naftalina. E os   apreciadores de antiguidades terão admirado o rigor com que Olegário   Benquerença aplicou as regras daquela altura. 
Foi  um espectáculo comovente. Quando um jogador vimaranense tentou  separar  a perna do Aimar do resto do corpo com um pontapé, dentro da  área do  Vitória, senti-me 14 anos mais novo.
A  falta não assinalada que Carlos Martins sofreu, também dentro da  área,  fez-me recuar à juventude. O fora-de-jogo inexistente que impediu   Saviola de ficar isolado à frente de Nilson trouxe-me à memória o viço   dos meus vinte anos. E, quando Cardozo viu um cartão amarelo por ter   marcado um golo limpo, quase chorei de nostalgia. Sou um sentimental, e   estes regressos ao passado comovem-me. Só não percebo a razão pela qual   este Vitória de Guimarães - Benfica foi transmitido pela Sport TV, em   lugar de ter passado na RTP Memória. Quanto a Olegário Benquerença, já   conhecíamos o seu talento como imitador de Quim Barreiros (quem não   conhecer, veja o vídeo no YouTube). Mas não sabíamos que ele também   tinha jeito para imitar o Martins dos Santos.
Que se  saiba, ninguém seguiu o conselho de higiene institucional que  Carlos  Queiroz nos deixou, gratuitamente, em meados da década de 90: não  há  notícia de alguém ter varrido a porcaria da Federação. Não serei eu a   pôr em causa a necessidade de varrer porcaria, seja na Federação ou   noutro sítio, mas, não tendo a porcaria sido varrida, foi com porcaria   que Humberto Coelho chegou às meias-finais de um Europeu, e foi na   companhia da mesma porcaria que Scolari conseguiu ser vice-campeão da   Europa e quarto classificado num Campeonato do Mundo. Bem sei, bem sei: o   mérito dos feitos de Humberto Coelho e Scolari é todo de Carlos   Queiroz. Foi ele quem lançou as bases. Construiu a estrutura. Pensou o   edifício das selecções. E a responsabilidade pelo actual momento da   Selecção é de todos menos de Queiroz. Por azar, ele tomou conta da   Selecção precisamente na altura em que o efeito da sua obra começou a   desvanecer-se. Os seus predecessores destruíram as bases, ignoraram a   estrutura e borrifaram-se no edifício. Curiosamente, Carlos Queiroz tem   mais mérito e influência nos resultados da Selecção quando não está a   treiná-la do que quando é seleccionador nacional. E, mesmo quando está   longe, Queiroz consegue ser autor moral apenas dos êxitos: é ele o   responsável pelo sucesso da equipa que fez um brilharete no Euro 2000,   mas não tem responsabilidade nenhuma no desastre do Mundial de 2002,   sendo que a chegada à final do Euro 2004 volta a ter o seu dedo.
O  despedimento de Queiroz deve agradar, por isso, ambas as partes: à   Federação – que, com processos disciplinares consecutivos, fez tudo para   o despedir sem nunca dizer que queria despedi-lo; e ao seleccionador –   que, insultando os médicos na Covilhã e o vice-presidente da Federação   no Expresso, fez tudo para ser demitido sem nunca dizer que queria   demitir-se. Por um lado, é uma pena que Queiroz e a Federação se   separem. Fazem um lindo par.
No  fim, a cabeça do polvo, pelos vistos, conseguiu o que queria - o  que  significa que este é o segundo octópode a ser bem sucedido no mundo  do  futebol em meia dúzia de meses. Infelizmente, dizem-me que ficávamos   mais bem servidos se o polvo alemão que adivinhava resultados viesse   ocupar o cargo de vice-presidente da Federação e Amândio de Carvalho   fosse para dentro daquele aquário na Alemanha.
In ABola  










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