Não é que costume gostar das crónicas deste senhor Octávio, mas nesta diz umas verdades inconvenientes que atingem a maioria dos dirigentes dos clubes portugueses.
Com 9 golos marcados na Liga, João Tomás é hoje uma triste parábola do futebol que se negoceia em Portugal.
João Tomás não é uma aposta para o futuro. Mas, golo a golo, há anos que este ponta-de-lança prova ser um dos melhores do presente. E, no entanto, a sua excelência goleadora espraia-se no Rio Ave, depois de já ter estado ao serviço do último devaneio profissional do Boavista.
Aqui chegado, convém neste texto deixar claro que o autor não conhece João Tomás, a não ser da sua prestação nas grandes áreas. Não há qualquer interesse pessoal nestes elogios merecidos pelo veterano avançado. Há apenas uma crescente interrogação: como pode um ativo que marca, mesmo num clube pequeno, com a regularidade de um relógio suíço, passar ano após ano ao lado dos movimentos do mercado?
Se o mercado merecesse esse nome, como poderia um punhado de presidentes ambiciosos ou aflitos nunca apontar para o nome de um jogador talhado para servir equipas que privilegiem o ataque continuado e o veneno das bolas paradas?
A resposta, caro leitor, só pode ser uma de duas: ou há muita incompetência nas decisões que fazem circular milhões de euros, ou muitas comissões fáceis saltam para contas privadas alavancadas por manchetes repletas de nomes sul-americanos.
Para sorte do Rio Ave e azar do próprio, João Tomás é português e barato. Por mais golos que marque, por mais competência que prove nos grandes povoamentos da área, vai acabar a carreira sem voltar a lutar por títulos. Ele, que com Fernando Meira poderia ter sido o cimento para a construção de um Benfica ganhador no final dos anos 90.
Mas isso já foi há mais de 100 golos atrás.
Faz pena ver este futebol com dirigentes que enriquecem e clubes cada vez mais falidos.
(Octávio Ribeiro, in Record)
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