Este Ruizinho saíu-me cá um artista. É só ziguezagues!
Ataca aqui, denuncia ali, antecipa castigos, mas atacar o "sistema" está quieto. Elas dóem, não é?
Jorge Jesus e Luís Alberto vão ser castigados pela Liga. O futebol tem um código de conduta próprio, nem sempre o mais recomendável. Um dos comportamento mais enraizados, resultantes desse código, é a negação dos factos e da realidade, à qual se juntam o ruído, a confusão e um conjunto de figuras, figurinhas e figurões que se movimentam para defender o interesse específico e a fação que lhes concede um maior ou menor benefício. Este código vai levar o futebol a perder a réstia de credibilidade que lhe resta. Mesmo considerando as tensões próprias que envolvem a modalidade, capazes de desencadear reações epidérmicas, Jorge Jesus e Luís Alberto vão ser castigados pela Liga, porque (re)agiram de uma forma que é, a todos os títulos, condenável.
Enão vale a pena negar as evidências, tentar aumentar ou diminuir o impacte daquilo que efetivamente aconteceu, porque – apesar de o sistema ter sido construído para defender o interesse clubístico, e daí todo o burburinho em redor deste fenómeno de cartelização – ainda têm de existir pessoas suficientemente distanciadas desses interesses para poderem produzir decisões que sejam sérias e não envergonhem aqueles que estão, neste desporto e na sociedade, de uma forma honrada.
Se não houver inflexão deste caminho, de defesa do indefensável, e não me refiro apenas ao futebol, estaremos todos perdidos e a “selva urbana” fará de nós, primeiro, meros joguetes, e depois, vítimas da própria cegueira.
Jesus deveria ter reconhecido que agiu mal. Luís Alberto deveria ter feito o mesmo. A equipa de arbitragem chefiada por Rui Costa, ao saber que deve ser a última a recolher às cabinas, era obrigada a registar genericamente o incidente, mesmo que lhe escapassem os detalhes. Não o fez, e não pode ser desresponsabilizada por esse facto. O delegado da Liga, onde estava? Distraído? À conversa? Falhou. Também não deve ser desresponsabilizado. Os representantes do Benfica e do Nacional, optando pela omissão ou pela interpretação enviesada dos factos, também não estiveram à altura das suas responsabilidades. A apurar: o quinhão de Jara.
Não houve queixas de parte a parte. Não dava jeito, por causa dos telhados de vidro. Encobriram-se. Não pode haver regulação no futebol português com estes vícios -- e o clamor pela regeneração acaba por cair em saco-roto. No mínimo, quando se põe em causa o fair play e a própria indústria, tolerância perante a “não afirmação”. Para além disso, atestados à inteligência.
Fez bem a CD da Liga em abrir um processo de inquérito, de acordo com as imagens televisivas. Só faltaria agora “condenar” o operador que transmitiu as imagens. Apagar, escamotear ou deturpar não são práticas a estimular.
Consultando os regulamentos, percebe-se que Jorge Jesus incorre num castigo de 23 a 274 dias de suspensão e Luís Alberto de 92 a 730 dias (pena reduzida a metade na forma de tentativa, isto é, no caso vertente, um mês a um ano). Por aqui se vê o peso e a importância das imagens televisivas – e também a discricionariedade da sua utilização/valoração. Para umas coisas, sim; para outras, não – e há quem jogue sempre no nim.
Interrogar-se-á o leitor sobre a (minha) afirmação inicial. Tem razão. Pode não ser assim. No futebol português, vale tudo. O espelho do país.
Sem comentários:
Enviar um comentário