Há qualquer coisa de esotérico na gestão emocional do Benfica, que parece comandado à distância, como uma marioneta, pelo jovem prestidigitador Villas-Boas. Sempre que algum facto encosta o FC Porto à parede, como o enésimo penálti salvador de Aveiro, o pelotão de pés-de-microfone embevece com a criatividade do jovem ex-candidato a jornalista.
Esta semana, na digestão de mais uma vitória de faca na Liga, eis que, na Luz, Jorge Jesus decidia roubar o protagonismo dos jogadores com uma ação de kung-fu à madeirense, os famosos “dois dedos na cara” de Ruben Micael, desta vez no relvado, porque os atletas do Benfica se recusam a entrar nos túneis em simultâneo com os adversários. E assim, enquanto o Porto matuta ostensivamente na contratação de árbitros, anunciando “urbi et orbi” os manos que mais lhe convêm, é o Benfica que se vê confrontado, justamente, com a Justiça desportiva.
No futebol, é muito comum justificar um erro com outro erro. Sempre que um árbitro beneficia um emblema, logo se procura um erro proporcional em sentido contrário. E quando o incompetente errou um penálti para um lado e um golo fora-de-jogo para o outro, os bons espíritos reconfortam-se e dormem em paz.
Este raciocínio maniqueísta parece também comandar a vida do jovem ex-clone de Mourinho. Então não é que o miúdo não fez nada que o graúdo não faça pior? Porque ainda está a crescer, Villas-Boas sente-se credor de indulgências à pala das derrapagens emocionais de Jorge Jesus, quase o definindo como seu mentor sénior. Aliás, nos tempos em que o Benfica metia dó, quer o treinador, quer o guarda-redes Roberto não tinham outros admiradores mais fervorosos e compreensivos do que o técnico e o presidente do Porto, amigos do pior.
Villas-Boas não teve coragem de criticar honestamente a diatribe de um colega de profissão, antes preferindo servir-se de um mau exemplo para justificar os comportamentos abusivos, ainda que pueris, que assume nos jogos complicados. Ao estilo de que aos miúdos tudo se permite, exceto que cresçam com os erros. Villas-Boas podia ter manifestado deceção, mas só conseguiu mostrar satisfação e orgulho, quando fixou as câmaras de televisão: “Espelho meu, espelho meu, vês que ainda há alguém mais insurrecto do que eu.”
Mas num quadro sem valores nem seriedade, sempre que alguém altera uma opinião errada sem ofender a própria coerência, a chama da esperança brilha no ambiente futebolístico. Tal se passa esta semana perante a indiferença pela antecipação do Porto-Nacional, que permitirá aos dragões jogarem em Braga com uma vantagem de 11 pontos (ou mais) sobre o segundo classificado. Há um ano, dirigentes da 1.ª Liga, que ainda não era presidida por um destacado ex-responsável do FC Porto, condenaram a antecipação do Benfica-Belenenses como uma “manobra estranha e inqualificável urdida nos corredores” para prejudicar o Sporting de Braga, que era, à data, o adversário (mais) direto dos encarnados. “Mutatis mutandis”, está claro que esta visão miudinha da transparência do futebol profissional já está a justificar vista grossa.
(João Q. Manha, in Record)
2 comentários:
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