quinta-feira, 4 de março de 2010

A manifestação, a conspiração e a desilusão

O jornal Record publicou uma crónica "divinal" de ataque aos corruptos pela pena de João Querido Manha. Vale a pena ler garanto!

Na semana passada fomos surpreendidos com um movimento espontâneo de grande impacto, alcance e significado, a manifestação da linha avançada de adeptos do FC Porto à porta da Liga, tendo como porta-voz um ex-dissidente em processo de reabilitação. O plano de pressão, legítima mas pouco desportiva, sobre os órgãos da Liga numa semana vital, só foi estragado pelo timing, seguramente conspirativo e antiportista, da Polícia Judiciária belga, de proceder a buscas na sede do clube, por não confiar na cooperação voluntária dos antigos associados de Luciano d'Onofrio.
Esta nova surtida policial às entranhas do clube-modelo parece ter provocado um efeito devastador no moral da equipa em vésperas de um jogo decisivo. No período pós-traumático da mais grave derrota em 33 anos no estádio do Sporting, as maiores censuras ouvidas dizem respeito à «atitude» dos jogadores, dando pouco crédito às justificações de Jesualdo Ferreira sobre a sobrecarga física - uma ressaca monumental às duas mais expressivas vitórias da temporada, frente ao Arsenal e ao Braga.
O FC Porto viveu longos meses em negação, perante a segurança e supremacia com que o Benfica foi construindo um avanço invulgar que se cifra em nove pontos, mal cumpridos dois terços da competição. Uma certa estratégia condutora à ocupação dos postos possíveis na Liga dos Campeões, numa frente unida com o Sporting de Braga, estilhaçou-se pela enorme apatia exibida em segunda visita desastrosa à capital, em pouco mais de dois meses. É de uma crise identitária que se vai falar a partir de agora, quando neste processo de valores invertidos se olha para a perda iminente de dois lugares de honra, uma classificação só e fugazmente conhecida no período pré-Mourinho.
Enquanto Benfica e Braga desenvolvem uma corrida inédita e carregada de emoção especial por causa da abissal disparidade de meios e apoios, é nas eliminatórias da Champions League que o FC Porto ainda tentará encontrar uma plataforma de sobrevivência e viabilidade para os elevadíssimos investimentos realizados na reconversão da equipa tetracampeã. O que se observou este ano, primeiro do lado de fora e agora certamente também em análise interna, foi uma súbita desaceleração competitiva, em contraponto com a transformação do Benfica em autêntico Fórmula 1 da bola, em velocidade, espetacularidade e eficácia.
As energias das manifestações folclóricas e da ‘fatwa' aos dirigentes da moribunda Comissão Disciplinar da Liga melhor serão investidas no futuro, devidamente renovadas em apoio à reconstrução da equipa que a SAD, com nova orientação financeira, já terá começado a promover sobre os escombros do "penta". A equipa do FC Porto perde relativamente para a do Benfica em valores individuais no meio-campo e no ataque, mas as diferenças maiores são evidentes nos processos coletivos, na articulação de sectores e na identidade geral afetada pela saída de Lucho González e Lisandro López, muito mais do que apenas dois grandes jogadores. Por isso e pela reduzida versatilidade tática frente a adversários mais exigentes responde o treinador Jesualdo Ferreira que, noutros tempos, estaria em fim de ciclo.

2 comentários:

Bimbosfera disse...

Foi engraçado, foi! Por acaso já tinha lido. Desconfio, eheheh, que o Manha é Benfiquista! Ehehehe!

Seja como for, é dos poucos que apontam o dedo aos azuis!

Abraço

Márcio Guerra, aliás, Bimbosfera

http://Bimbosfera.blogspot.com

Manuel Oliveira disse...

Só pode ser! Eu já tinha essa ideia dele.
Abraço.

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